sexta-feira, 11 de novembro de 2005

"Cisco" no olho

Estava aqui pensando (afinal, pensar é uma das coisas que mais faço) e cheguei a rir sozinha de um fato pra lá de idiota que acabou por mudar um de meus conceitos, que pensei ser dos mais arraigados em meu cérebro.
Sempre lutei muito para morar a certa distância de minha família. Não que eu não a ame, mas sempre desejei privacidade e independência. Porém, ontem me aconteceu algo inusitado. Quando estava no ponto de ônibus para ir ao trabalho, em meio a uma ventania daquelas, um pequeno cisco, ou corpo estranho, como queiram, entrou em meu olho direito. Imediatamente esfreguei meu olho para ver se conseguia me livrar do negócio. Quanto mais eu esfregava, mais o cisco entranhava pela parte interior de minha pálpebra.
Voltei para casa, um pouco cega e atormentada, e me senti as últimas das criaturas. Eu ali, frente ao portão, sem encontrar minhas chaves e sozinha, completamente sozinha.
Quando finalmente consegui entrar, corri até o banheiro para me olhar no espelho e ver se encontrava o objeto indesejável. Vasculhei meu olho e nada, só sentia a dor, no olho e em meu coração.
Liguei para meu marido, que estava no trabalho e não poderia fazer muita coisa por mim, além de tentar me consolar. Então, como sempre acabo fazendo, mesmo contra minha racional vontade, liguei para minha mãe.
Ela e meu pai imediatamente vieram me buscar e levar ao hospital. O atendimento foi rápido. Após anestesiar o olho, o médico deu uma viradinha na pálpebra e me livrou não só de uma pequena pedra, mas também da certeza de que morar longe da família é a melhor coisa do mundo.
Família é tudo, chata, louca, animada, melancólica. Não há ninguém nem nada que mereça mais da nossa consideração do que aqueles que não escolhemos para fazerem parte de nossas vidas, mas que fazem pelo simples fato de serem os únicos que sempre estarão por perto, seja para brigar, consolar ou apenas tirar um cisco do olho.

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