sábado, 14 de outubro de 2006

O que não dá pra deixar de dizer

Tenho tentado compreender como se dá a apreensão de idéias, muitas vezes, totalmente diferentes de nossos paradigmas. Como conseguir alcançar pessoas que vem há muito tempo utilizando os mesmos métodos, repetindo as mesmas frases, utilizando os mesmos jargões, caminhando no mesmo passo. Como apontar novos caminhos, descortinar novas possibilidades, mostrar que há maneiras e maneiras de se conceber idéias e conceitos, de agir, de pensar.
Mudança, palavra suspeita. Pode abrir horizontes ou causar mal-estares. Os horizontes serão abertos aos que ousarem mudar, os mal-estares virão aos que, enraizados em suas formalidades e regras sem razão palpável, temem a surpresa, a falta de controle, o “vamos ver no que vai dar”.
Mas para vislumbrarmos a mudança é necessário que os agentes dela sejam capazes de atingir pessoas, consciências adormecidas, sonhadores que estejam sendo cerceados por um sistema que busca os controláveis, os quietinhos, cabeças baixas, que ouvem, mas não falam, que sofrem, mas não incomodam. Essas pessoas estão por toda parte e é necessário alcançá-las. Mudança não se faz sozinho, porém alguém deve começar, a partir de então forças podem ser somadas em direção à libertação.
Para isso precisam-se ouvir opiniões, discutir, ver pontos de vista diferentes, conhecer aqueles que sejam capazes de pensar por si próprios, mesmo que ainda não tenham se dado conta disso. Não há como pretender nenhuma ação que envolva pessoas sem a participação de pessoas. Nisso se faz necessário o diálogo, a comunicação a partir do outro, dentro de um conjunto, de um contexto.
Li recentemente uma frase, no mínimo, interessante “o diálogo sela o ato de aprender, que nunca é individual, embora tenha um dimensão individual”. Para chegarmos a um consenso parte-se do falar, do dizer ao outro o que penso, porque penso, o que espero, o que temo, no que difiro. Nem sempre o que dizemos é bem-vindo. Muitas vezes, a sinceridade é mal vista, o contrariar é interpretado como rebeldia e falta de educação, falta de submissão e visão celular, desrespeito e intolerância. Porém, a meu ver, é muito mais uma questão de orgulho de quem se diz dirigir e liderar, por não conseguir aceitar que pode estar errado, do que qualquer dos outros atribuíveis ao ato de revoltar-se.
Devemos ser capazes de criar algum mal-estar, de propiciar algumas incertezas para iniciarmos o processo, longo e árduo, da mudança.
Ela é possível, basta persistir, encontrar o outro, ou outros, que deseje renovação, que aspire por mais, que espere ansiosamente pelo momento de avançar em direção a um novo descortinar de possibilidades, de vida. Pode até doer, pode sangrar, pode exigir sacrifícios, a mudança nem sempre é alegre, festiva e cordial. Ela pode vir aos solavancos, retirando as idéias e as motivações de entre escombros, desenterrando o inato no homem: o sonho de liberdade. É a direção que devemos seguir, se quisermos dizer com orgulho que soubemos viver.

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