sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Via internet, conectado ou não

Difícil, hoje em dia, ficar de fora das tecnologias inseridas no mundo da informática, especificamente no que diz respeito às comunicações virtuais e em tempo real.
Ultimamente, tenho utilizado como nunca o programa de mensagens instantâneas MSN. São amigos, colegas de trabalho, alunos, família. Não há quem não se conecte uma hora ou outra. Bom? Ruim? Até quanto de contato verdadeiro me permite tais inserções?
Como nem sempre conseguimos nos falar no dia-a-dia, reflexo deste mundo pós-moderno no qual vivemos, os programas ajudam, nos permitem manter contato com aqueles que prezamos ou necessitamos; podemos enviar informações ou solicitá-las com a rapidez exigida pelo nosso tempo disponível, ou seja, nenhum; nos mantém bem despertos altas horas da madrugada (quando o custo da conexão via acesso discado é mais barato) jogando conversa fora ou trocando impressões sobre algum feito do dia; revemos parentes, contatamos amigos e descobrimos, talvez sem querer, que ainda somos amados e queridos e que, pelo menos virtualmente, temos um grande campo de relacionamentos.
Então, quando isso pode tornar-se perigoso? Quando permito que minhas trocas e compartilhamentos só ocorram por esse meio. Quando substituo o abraço, o afeto, o olho no olho pelo teclado do computador, quando deixo de ir visitar um amigo porque já “falei” com ele pela internet, quando esqueço que as pessoas precisam umas das outras no mundo dito real, que as dores continuam aí, que os problemas existem, que dar o ombro deve ser ao vivo.
Os relacionamentos interpessoais são a base de uma sociedade mais humana e caridosa, mais respeitadora das diferenças e engajada em uma luta que visa oportunidades iguais a todos, acesso a felicidade não só aos viajantes da internet, mas à qualquer pessoa que cruze ou não nosso caminho, uma sociedade que entenda as individualidades sem criar seres individualistas, que preze pelas virtudes da compaixão, da fraternidade e do bom-senso, em fim, uma sociedade feita por homens e mulheres com contato de pele, de olho, de sorrisos e lágrimas, capazes de estarem além de teclados, luzes piscantes e sinais sonoros.
Não sou contra e admito e compartilho das vantagens de nossa tecnologia virtual, mas não posso entrar, simplesmente, nessa onda sem ter consciência do que realmente acontece, do quanto posso me tornar fria e mecanicista, preciso estar armada contra o fato de que o mundo conectado pode ser um mundo sem coração e sem pessoas, somente máquinas falando umas com as outras e que nele, portanto, não há lugar para mim, porque preciso, necessito, de gente, de povo, de calor humano, de troca de risos e gargalhadas, de saídas sem rumo, de abraços, de trocas. Afinal, sou alguém, tenho rosto e tenho alma e não posso viver afastada de seres da minha espécie.

Um comentário:

Anônimo disse...

Imaginas então a tristeza do livro que pelas tuas mãos não se abriu..sequer imaginava que seria folhado, mesmo que por simples curiosidade de uma leitora ávida por uma aventura ou qualquer informação que a tranformasse numa pessoa especial pela descoberta do prazer de ler!!
Não apenas te viu passar e com um olhar de desprezo, como sentiu o antigo aroma que sempre vinha das tuas mãos quando carinhosamnete o tirava da estante e lia demoradamente para as crianças dormirem sonhando com as aventuras que dele saiam... Eu acho que livros são assim..mágicos e toda esta tecnologia não terá o poder de substituir essa magia, este prazer de manusear as folhas, sentir a textura das paginas já amareladas com o tempo..é acho mesmo que não!! Belos textos Ane de Mira que adora o seu nome por inteiro... como um livro e suas magias que fazem sonhar.