quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Ainda ouço os passarinhos

Conversando com colegas e amigos, por vezes surge o tema violência urbana. São crianças que não podem mais brincar tranquilamente nas ruas, investimentos em grades para as janelas, cercas elétricas, alarmes e câmeras de segurança. Os idosos que não podem fazer a feira, visitar os amigos e parentes. Até podem, mas sozinhos nunca. E os adolescentes? Não podem mais sair de casa sem levar o celular, sem deixá-lo ligado mesmo no cinema, na balada, no encontro. São outros tempos, dizem, tempos dos condomínios fechados.

Segurança virou item de luxo e dane-se quem não pode pagar para ter sossego na hora de ir trabalhar, estudar ou mesmo dar uma voltinha descompromissada fora de casa. Por isso, quando conto que onde moro as crianças andam de bicicleta até tarde no verão, a maioria das casas não tem grades nas janelas, as roupas ficam tranquilas no varal, há casas sem nenhum tipo de cerca, a não ser as vivas e que da minha casa posso ver as máquinas de lavar dos vizinhos, posso ver suas tevês de LCD e mais algumas coisinhas, e que não se trata de nenhum condomínio fechado, o povo me olha sem acreditar.

Mas onde tu moras???

Não moro, eu brinco, me escondo. Na verdade, meu bairro é afastado do centro da cidade, beeemmmmm afastado, digamos. Durante nove anos nem ônibus passava no residencial, antes chamado de loteamento, ficou chique e mudou de status esse ano. Aqui, lugar que é longe de muita coisa como hospital (mas tem posto de saúde, creche e locadora de filmes), bancos, grandes supermercados, parques, grandes escolas, prefeitura, padarias (o dono do mercadinho que não me leia), aqui, onde ainda existem corujas, onde os beija-flores voam espanando as flores no meu jardim, onde passarinhos me acordam de manhã, se não passarinhos, as risadas da criançada brincando na rua, onde se pode usar o notebook na calçada, tomar chimarrão com os vizinhos quase no meio da rua, onde todo mundo conhece todo mundo pelo nome, dá pra se ter a impressão de que o mundo é maravilhoso.

Então, por essas e outras, continuo não abrindo mão do sossego, de poder sair tranquila de casa, de poder ver a vizinhança crescer, vizinhança infanto-juvenil. Não abro mão de viver tranquila, mesmo tendo que fazer uma viagem de quase quarenta minutos até meu trabalho, se eu for de ônibus, sendo esse no centro da cidade. Não há preço tão alto, nos dias de hoje, que não possa ser pago para se ter paz e quando é de graça melhor ainda.

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