quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Mídia: influência e manipulação

A influência que a mídia tem tido sobre nós é um assunto que está me interessando cada vez mais. Inclusive, estou lendo um trabalho sobre o assunto no que se refere à educação e à cidadania. Trata-se do livro de Pedrinho Guareschi e Oswaldo Biz, Mídia, Educação e Cidadania. E tão importante quanto ler e analisar essa obra, está sendo o fato de muitas de suas idéias serem compatíveis com as minhas, claro que com a questão intelectual como um diferenciador, pois até hoje eu não havia sentido a necessidade de me ater detalhadamente sobre o assunto.
O mesmo passou a me interessar pelo fato de conviver com muitas pessoas, alunos e alunas, de todas as idades, colegas professores, amigos e na comunidade religiosa da qual participo. Em qualquer dessas vertentes da sociedade não há um só dia que a conversa não gire entorno do que apareceu na televisão, do que se leu no jornal ou se ouviu no rádio. Fora isso, estão todas as informações entregues mastigadas e digeridas pela internet. Como a mídia e seu grande poder pode passar despercebido? Não é que não venhamos a nos envolver com ela, pois precisamos estar bem informados, mas até que ponto analisamos as informações que recebemos? Será mesmo tudo verdade o que gritam os telejornais, os programas de entrevistas? Só porque tentam manter a imagem de uma preocupação com a informação verídica, o fazem de fato?
Até que ponto, me pergunto, a mídia é controlada pelo sistema corrente (capitalista e manipulador) a fim de incutir suas idéias e princípios, no que concerne ao viver diário de milhões de brasileiros que vêm suas vidas mostradas na tela da tv, através de telenovelas e programas de humor. Mostradas já de forma transformada para dizer a mim, mulher e profissional, que minha vida deve ser assim ou assado, ou para o pedreiro que estudou até a quarta série do ensino fundamental, que sua vida não passa unicamente de um erro em suas escolhas, de falta de oportunidades ou de má sorte. Quem diz o que somos, o que devemos ser ou o que seremos capazes de sermos? Quem dita as regras, quem impõe a moda? Quem me diz em quem votar só porque é maioral nas pesquisas encomendadas pelas grandes redes controladas por um sistema e por líderes com objetivos escusos, os quais nem passam pelas nossas mentes?
Não tenho todas as respostas, afinal não passo de mais uma telespectadora. Mas estou tentando entender como a máquina da comunicação de massa age, calculando seu tempo de exposição, observando seus discursos, o que querem que eu faça, ou como eu haja diante de tal e tal situação. Estou aprendendo a olhar as cores, o que querem me mostrar e o que querem me esconder, quem fala e quem ouve, quem impõe e quem simplesmente reproduz um texto, texto esse empurrado a todos nós para que decoremos e vivamos dentro de suas normas e regras para o bem comum dos poderosos, da elite detentora dos direitos autorais da manipulação das mentes e consciências da população.
Claro está que nem tudo na mídia é tão terrível assim, aí estão os canais independentes, os canais das universidades, os canais educativos, que pouquíssimas pessoas assistem porque parecem não ter atrativos quanto às grandes produções, pois os recursos são escassos e não há incentivo do governo para o crescimento e desenvolvimento desses projetos. Mas eles estão aí, com excelentes temas sendo abordados, programas diversificados e um grito apertado na garganta, grito que está sendo solto aos poucos, em uma tentativa de alerta e de conscientização. E onde está esse grito? Vá apertando os botões do controle remoto de sua televisão... é naquele programa meio sem cor, meio apagado, meio sem luz. Pare para ouvir, pare para pensar, não se precisa de mais nada. Pois como dizia Sartre “não importa o que fizeram de nós: importa o que nós fazemos do que fizeram de nós”.

2 comentários:

Anônimo disse...

caríssima Ane de Mira... Miras...que nome renomado de uma escritora que se esconde em um Blog! Imaginas... o Blog é publico mas o publico não acessa, ou por não ter acesso,ou porque no fato de tentar acessar a demora te dá um acesso de raiva. Mas a verdade é que na nossa vida, não temos uma verdade absoluta. Veja nós mestres da sabedoria que ensinamos aos outros coisas que nos ensinaram , ou pelo menos , tentaram nos ensinar,mas com a verdade de vida deles, na visão deles..E a nossa visão de vida? vale para nossos alunos, amigos, familiares e convívios??? o que aprendemos com nossos pais e avós?? é útil?? necessário?? É claro que devemos ser criteriosos nas nossas escolhas e vivermos da maneira mais tranquila que nossa consciência possa nos dirigir... mas a questão que fica é a seguinte: qual é a verdade verdadeira..bjus minha escritora preferida...

Levi Nauter disse...

O problema da mídia é tão complexo quanto são as relações interpessoais. Quando dialogamos, quando 'jogamos conversa fora' ou, em geral, quando interagimos, nossas relações são pautadas em um complexo compêndio de crenças (âmbito social, histórico, religioso, moral, psicológico). E tão importante quanto às relações é a consciência de que sempre há um jogo de interesses - o que torna, irremediavelmente, nossas relações um fazer político. Pra mim essa é a principal importância: o jogo de poder que há em toda e qualquer relação - pouco importando a crença e/ou o grau de parentesco entre as partes.
Em seguida, parece-me que podemos entender que nossas crenças ditam nossas verdades. Por isso da instabilidade de uma verdade. Assim, ela tem que ser contextualizada - o que valia há um tempo torna-se arcaico no presente e o que hoje não se aceita poderá ser revertido mais a frente. Então, podemos dizer que não há verdade absoluta fora de um determinado contexto. Quando Cristo diz que é a verdade ou quando nós, cristãos, declaramos uma verdade fazemos no contexto cristão e ponto. A história mostra que todas as vezes que se tentou uma verdade absoluta tivemos, além do triste fundamentalismo, conflitos até armados e muitas mortes.

O que resta dizer? Que a mídia cumpre, ainda que mal, o seu papel dentro de uma verdade. O nosso contraponto? Idem. Lembro-me agora do célebre Edgar Morin que na obra "Os sete saberes necessários à educação do futuro", no quinto capítulo, trata das incertezas. Ele diz que todo o educador, ao compartilhar o conteúdo com o aluno (porque "ninguém ensina ninguém" - Paulo Freire), sempre estará em terreno arenoso: ensinará equívocos e terá como base também alguns equívocos, tudo porque na medida em que avançam as tecnologias de informação é que vamos tomando consciência de erros. Por isso, a incerteza será inevitável.

O que resta fazer? Viver. É parte da humanidade o erro, o equívoco, o pecado – ao mesmo tempo que, por outro lado, é da divindade o perdão. Creio que nosso papel de educador/educando (porque somos essa dualidade ao mesmo tempo) é enfrentar as incertezas. É saber que não há uma verdade absoluta, embora alguns dirão o contrário. Saber que em tudo que lemos, ouvimos e dizemos há um pouco tanto de distorção como de tensão e, sobretudo, politização. A vida é assim. Muitos “indivíduos ainda não se terão percebido como sendo socialmente condicionados.” (Paulo Freire). Nunca iremos mudar por completo essa situação. Pois, o educador tem de deixar isso claro. Se as pessoas irão ou não mudar pouco importa, interessa que deixemos claro nossa opinião, nossa cosmovisão. Parece, também, legal continuar sugerindo programas, digamos, mais underground. Talvez um bom debate possa surgir a partir da combinação com os alunos a fim de assistirem e depois debaterem o interessante e instigante programa Observatório da Imprensa, transmitido aqui pela TVE-RS, às 22h40min - uma análise com especialistas em mídia do Brasil.