domingo, 4 de março de 2007

Dia de chuva

Hoje é um daqueles dias em que tudo cai em uma terrível melancolia tristonha. Tarde de chuva, céu nublado e aquela soneca pedindo para ser tirada. Entre uma página e outra de Saramago, uma parada de não sei quantos minutos só para dar uma olhada para o nada da memória, ou do pensamento. Lembranças tolas, desejos não alcançados, planos inacabados.
Hoje é o dia.
Dia de não fazer nada, ficar deitada no sofá ouvindo o barulho da chuva chorando suas dores poluídas, entrar no marasmo da lentidão das cinco horas, pedindo para o carro ligar no minuto último de sair para o trabalho.
Olhar as unhas que precisam ser lixadas, sem lixar. Fazer mentalmente a lista de compras que eu não pretendo comprar. Caminhar pela casa só pra não perder o jeito. Me solidarizar com a cachorra que dorme a sono solto e fazer o mesmo. Nem o pão doce delicioso será comido. O cabelo não será escovado, ou será, já que preciso ir trabalhar. A sorte é que o trânsito me acorda, ou não. O movimento dos alunos me desperta, o tilintar do sinal para entrar em aula me diz que a chuva acabou e som ela a tarde sonolenta e a vontade de não fazer nada.
Aí valerá a pena ter lixado as unhas, feito a lista de compras imaginária, ter idealizado o mundo. Lá dento, frente aquelas pessoas que esperam algo de mim, nem que seja um boa noite, sou fulana. Entre as quatro paredes de um mundo infelizmente estático, eu posso mostrar para o que vim ao mundo. Aí, sim, escovar o cabelo terá tido algum sentido.
E entre as grandes verdades absolutas da vida, aquelas verdades que muita gente diz que não existe, uma me grita de dentro do banheiro, à hora em que vou me olhar no espelho para ver o resultado da maquiagem feita às pressas. Verdade nenhuma teria tanta força do que a certeza inabalável e momentaneamente irresolvível de que o papel higiênico acabou e não há onde comprar pelos próximos cinco quilômetros. Tá na hora de acordar.

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