quarta-feira, 25 de julho de 2007

Síndrome da Mulher Maravilha

Ultimamente, ando com a tendência quase neurótica de me auto-analisar. Não são só fatores já conhecidos meus como meu perfeccionismo, minha vontade doentia de ser a melhor no que faço, não, não é isso. O que vem me perturbando desde uns tempos para cá é minha vontade, meu desejo ardente de salvar o mundo. Já ouvi tantos me dizerem que não o posso fazer. Impossível salvar o mundo. Desde pequena minha mãe sempre me diz que não devo me envolver nos problemas dos outros, que ao fazer isso perco muito, sofro mais e não exerço nenhuma mudança. Enquanto profissional da educação, o discurso não muda muito, não devo me envolver com a vida de meus alunos, não devo pensá-los como seres humanos com um histórico de vida, de limitações, de desejos não satisfeitos, de sonhos nunca realizados, que não têm a formação educacional como prioridade porque a vida lhes ensinou que devem mesmo é lutar para sobreviver. Amigos: na verdade só são interessantes até precisarem efetivamente de você. Família: só para segurar a sua barra, não você a dela. Na verdade, o que venho ouvindo, não só de pessoas próximas a mim, mas também pela mídia, é que cada um deve viver para si mesmo e cada um faça a sua parte para sobrepujar os problemas.
Solidarizar, repartir, compartilhar, dar são verbos que aos poucos têm caído em desuso. Não é mais humano ajudar sem olhar a quem se ajuda. Agora, devemos calcular o que se ganha com o ato de bondade: descontos no imposto de renda, uma moeda de troca no final das contas, pedras em uma coroa ilusória, um lugar no céu.
Quere salvar o mundo é muito mais do que uma obrigação. Já me disseram para considerar esse desejo mais como uma maldição. O passar por um mendigo e me comover, o não suportar manter distanciamento das aflições, o querer encontrar soluções para pessoas que nem conheço. Já me disseram que devo fazer terapia para me curar, ou ao menos controlar, minha síndrome de mulher maravilha (isso foi um psiquiatra quem me disse). Pois, se eu fosse realmente a mulher maravilha me empenharia, sim, em salvar o mundo, em curar suas feridas, em matar sua fome e sede, em abrigar seus corpos e corações. Não me importo de sofrer por tentar e não conseguir, por desejar e me ver impossibilitada de fazê-lo. Mil vezes esse sofrer do que me manter acima de todos, de considerar-me melhor ou com mais problemas que não tenha tempo de pensar em mais ninguém.
Não me importam as visões egoístas da sociedade, do pensamento de que cada um nasce com seu quinhão de pesares. Se eu pudesse, se eu pudesse mesmo, eu salvaria o mundo. Mas sei que não posso. Sou limitada, sou humana. Só um pode e agradeço todos os dias porque Ele veio e quem quiser de verdade encontra salvação, quem sabe não seja bem o que as pessoas queiram, mas que podem, podem.
Enquanto isso, enquanto houver um hiato entre o se vão querer e o receber essa salvação, eu continuo tentando fazer a minha parte. Ainda me comovo com as histórias dos outros, ainda choro diante de uma catástrofe pensando no sofrimento alheio, ainda estendo a mão sempre que minhas condições me permitem. Ainda sofro por não poder fazer mais. Ainda continuo considerando minha capacidade de desejar salvar o mundo um dom que não me deixa esquecer que também sou humana, que também sofro, que também tenho problemas, mas que eles jamais serão grandes o bastante para me destruírem porque tem gente que sofre mais do que eu.
Então, não adiantam os discursos que tentam em convencer de que não devo, porque sei que devo, mesmo que não possa, desejar sempre salvar o mundo.

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