domingo, 19 de agosto de 2007

A esperança

Engraçado como a vida prepara situações realmente inusitadas. Também é incrível como de uma conversa aparentemente banal e corriqueira saiam grandes filosofias e temas para reflexão. Pois foi numa ocasião assim, não banal, mas corriqueira, de rotina mesmo, rotina de trabalho, que conversa vem, conversa vai, travei um diálogo pra lá de profundo com meu coordenador. Falamos de tempo, esperança, fé, ideais, família em menos de 30 minutos. Dessa conversa saí com a estranha sensação de que havia muito mais para ser dito sobre tudo isso e no dia seguinte, nesses encontros casuais que a vida prepara, me vi lendo um livro de Rubem Alves, Perguntaram-me se acredito em Deus, em que, em um de seus capítulos, ele trata da esperança. Tanta poesia e verdade não poderiam passar despercebidas. Por isso, deixo aqui registrados alguns fragmentos, textos que realmente me fizeram refletir, que de uma maneira nova e antiga ao mesmo tempo mexeram comigo, remexeram em lugares silenciosos, em baús, tiraram algumas teias de aranha e deram nova cor à casa de meu coração.
Então, com vocês, Rubem Alves:



“A esperança serve para dar alegria aos tristes. Ela é uma estrela. Estrelas não aparecem durante o dia. Estrelas só brilham durante a noite. Somente aqueles que caminham de noite podem vê-las. As estrelas estão muito longe. São inatingíveis. É possível que muitas das estrelas nem mais existam... ‘Mas o que seria de nós sem o socorro das coisas que não existem? ’. Aqueles que vêem as estrelas ora são chamados de poetas, ora de profetas.”.
“A esperança vê o que não existe no presente. Existe só no futuro, na imaginação. A imaginação é o lugar onde as coisas que não existem, existem. Este é o mistério da alma humana: somos ajudados pelo que não existe. Quando temos esperança, o futuro se apossa dos nossos corpos. E dançamos. Quem é possuído pela esperança fica grávido de futuros.”.
“O mais surpreendente nisso tudo é que a estrela inacessível tem um rosto de criança... Aqueles que ouvem a melodia do futuro plantam árvores a cuja sombra nunca se assentarão. Mas não importa. Eles se alegram imaginando que as crianças amarrarão balanços nos seus galhos...”

(fragmentos do livro Perguntaram-me se acredito em Deus, de Rubem Alves, São Paulo: Planeta, 2007, p.83-87).

Um comentário:

Levi Nauter disse...

Rubem é Rubem. Algumas coisas sobre educação que ele fala não me agrada. Não concordo.

No entanto, teologicamente acho-o maravilhoso. Possuo dois livros que devem ser lidos com vagar, muito vagar. Deve-se ler comendo as palavras.

"Religião e Repressão" e "Se eu pudesse viver minha vida novamente".

Tem mais gente boa, mas ele não pode ficar de fora. Tive o prazer de assistí-lo em 2004, na FENAC. Pela primeira vez, vi duas mil pessoas não arredarem o pé até o final da palestra. Foi ótimo.

Levi Nauter