quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Ensaio Sobre a Cegueira - o Filme


No último final de semana, fui assistir ao filme Ensaio sobre a Cegueira, baseado na obra homônima do português José Saramago e dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles.
Fomos eu e meu marido, o que é no mínimo interessante, pois temos a visão de quem leu o livro (eu) e de quem não leu e nem ao menos sabia do que se tratava o filme (ele), m
as que foi quem descobriu a exibição e me convidou a assistir.
A película está ótima. Para quem leu, a identificação com o livro é imediata. Meirelles soube captar a sensação da cegueira branca muito bem, os momentos de mais apreensão são os de escuridão total da tela, somente com os ruídos e vozes ao fundo. Tanto os dias no sanatório como os passados fora dele são reveladores e nos mostram o que já sabemos, mas não queremos jamais admitir: o ser humano sempre busca tirar proveito de todas as situações, explorando seu semelhante ao invés de juntar forças para praticar a mudança necessária para que todos tenham melhores condições, considerando-se a situação enfrentada.
Para quem não leu o livro, uma dica: o filme é chocante. As cenas mostram com muita nitidez a baixeza humana, a imundícia a que podem chegar as pessoas sem a visão. Por mais que tentemos observar somente as metáforas apresentadas e constituir em nossa mente o que seria um mundo sem a visão e percepção do caos em que está inserido, as cenas que visualizados na tela grande realmente nos deixam pasmos.
Vale a pena assistir. Além das atuações brilhantes de atores dos mais variados países, a gravação rodada ora no Japão, ora no Brasil sem que se tenha a percepção disso, é fantástica. Tem se a impressão de breu contínuo, de escuridão, de desesperança eterna. O fim é aberto. Não há respostas, nem conclusão por parte dos personagens, há apenas possibilidades.
Chegando em casa, fui direto buscar o livro na estante. Eu o li em dezembro de 2006, numa época em que buscava entender o porquê de ser tão difícil para as pessoas, para uma grande parte delas, lutar para fazer a diferença. Ensaio sobre a Cegueira me mostrou, de forma vívida e perturbadora, que é preferível a cegueira, o não saber. O mais difícil é ser a mulher do médico, é enxergar e ter que conduzir, preservar, cuidar dos que não vêem.
Na última página de meu exemplar fiz a seguinte anotação:
“Todos somos cegos e me pergunto: o que somos capazes de ver e de não querer ver e até que ponto queremos ser os olhos de quem não vê? O quanto de responsabilidade pela visão nos dispomos a ter, a ver o que outros não vêem e a lhes contar o que vemos, mesmo que depois disso eles continuem a não querer ver? E o que fazer com o que vemos e o que fazer depois de vermos?”.
Se naquele ano eu fazia esse questionamento, admito que nada mudou. As mesmas perguntas continuam e as respostas estão longe de serem encontradas.

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