domingo, 7 de dezembro de 2008

Conversa em família

Hoje, num almoço em família, os assuntos em pauta foram a depressão, a fobia social, as crises de pânico. Falávamos de pessoas que convivem conosco e também de nós mesmos. Questionávamos o porquê de tanta gente sofrer desses males. Nunca psiquiatras estiveram tão em alta. As empresas farmacêuticas faturam com antidepressivos, ansiolíticos, medicamentos para equilibrar o humor, medicamentos para dormir, para acordar, para viver.
Sei que o uso de químicos, muitas vezes, é mais do que necessário. Sei bem o que é uma depressão. Sei o que é ver tudo tão cinza que palavras como esperança, força, alegria soam como deboche. Sei o que é acordar às três da manhã e não adormecer mais. A cama queimando o corpo e a certeza de que se precisa dormir porque o outro dia será cheio, a briga com o sono, que escapa a todo momento. Sei o que é parar o carro no meio da rua e querer sair correndo, sem motivo aparente, só o medo de alguma coisa sem nome. Sei o que é a ansiedade, a dor por dentro sem se saber por que. Sei muito bem o preço dos remédios. O prozac é amigo antigo. O lexotan, o dorminid, o prolift, o rivotril. Já estive nesse atoleiro, mas mesmo em meio ao caos pude contar com duas coisas muito importantes: família e amigos.
Do tempo de nuvens negras o que mais lembro é das pessoas ao meu redor. Meus pais me deram tempo e amor. Nunca me perguntaram por que eu chorava, mas nunca me deixaram chorar demais. Estiveram ao meu lado em todos os dias, sem nem um questionamento, sem nenhuma cobrança, sem nenhum sentimento de culpa. Nunca me julgaram e nunca me deixaram só. Minhas irmãs, eternas amigas, me levavam para passear, para gastar, para ver o sol.
Durante esses dias, nasceu meu primeiro sobrinho, conheci o amor da minha vida, viajei para Israel, Egito e Espanha. Deprimi, mas nunca deixei de viver. Com estrelas reluzindo tão perto da gente, não há como viver no escuro.
Pessoas. Abraços. Palavras de afeto. Sorrisos. Vivemos em um tempo em que as relações simples e verdadeiras andam enfraquecendo. Sou uma felizarda por ter ao meu lado família e amigos excepcionais. Queridos que me fazem sentir querida. Meu tempo de lágrimas há muito me deu adeus.
Não deixo de passar por momentos de incertezas, de frustrações, de medos e tristezas. Mas não permito que esses momentos durem muito. Me cerco de gente amiga, busco a alegria da família, visito a casa de meus pais, me encho de desafios. Leio um bom livro, ouço uma boa música e escrevo.
Há algum tempo aposentei os remédios. Na última consulta, recebi a orientação de como proceder para acabar de vez com a dependência. Coloquei os últimos comprimidos no lixo. Descobri o elixir da vida eterna. Passei a olhar para os outros. A me encher de outros. A me embriagar de outros. Com os dias cheios de gente, de abraços, de palavras carinhosas, de risadas e de diferenças não há como ter tempo para chorar. Vivendo na luz, não há como perceber as trevas.

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