terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A festa de Babette - um comentário

Aproveitando meus últimos dias de férias, assisti ao filme A festa de Babette, indicado há um tempo por uma querida amiga.
No início, esperei por mais uma história de época em um país fora do grande centro cinematográfico de Hollywood, o que sempre me cativa. Mas pude viver emoções intensas e diferentes enquanto os minutos iam passando e Babette se preparava para oferecer seu banquete.
Duas filhas de um pastor protestante envelhecem seguindo a doutrina da caridade e da renúncia aos prazeres pessoais. Deixam grandes amores e realizações para trás, olhando em direção a um futuro no céu e preocupando-se em manter vivos os ensinamentos de seu pai em uma comunidade religiosa cada vez mais reduzida.
Babette é uma refugiada da guerra civil francesa que vai trabalhar para as irmãs por indicação de um antigo amigo em comum.
Há quatorze anos servindo a elas, Babette se vê beneficiada com um prêmio de loteria da França. Decide, então, oferecer um jantar francês para a congregação, por ocasião do centenário do pastor, morto há vários anos.
As irmãs concordam em aceitar a oferta, mas não imaginam o que fará Babette para a comemoração.
Ao verem sua chegada carregada de diferentes iguarias, como codornas, tartaruga, vinhos e champanhes, as irmãs reúnem a congregação para alertar os membros, a fim de que não se contaminem com um provável “banquete satânico”, ao que todos anuem.
Porém, a presença de um general à mesa faz a diferença durante o jantar. Enquanto os demais presentes se mantêm fiéis ao silêncio a respeito da comida, o general aprecia e elogia cada prato, cada bebida que é servida.
Aos poucos, os demais passam a apreciar mais aquele momento especial, esquecem antigas rixas, passam a adotar uma postura mais cordial, mais afável uns com os outros.
Após todos se despedirem, as irmãs vão agradecer a Babette pelo memorável banquete e provavelmente o último, pois agora, com o dinheiro ganho na loteria, ela certamente iria voltar a França.
Babette impressiona as irmãs ao contar que era chef de um famoso restaurante em Paris e que não iria embora, pois não havia ninguém a sua espera. Além disso, não tinha mais dinheiro.
Ela havia gasto todo seu prêmio com o jantar oferecido.
Ao longo de todo o filme, muitas são as citações bíblicas e palavras que remetem a busca pela pureza e focalização no céu, na obrigação de se servir a Deus e de não se buscar os prazeres do mundo. Porém, a atitude mais cristã apresentada foi o oferecimento de Babette, que usou todo seu dinheiro a fim de proporcionar um momento de prazer àquelas pessoas que não o tinham.
Ela parece encarnar o sacrifício de Cristo, que se doou por nós, para que pudéssemos desfrutar uma vida em abundância. Mas assim como muitos no filme, há pessoas que não conseguem enxergar as dádivas e buscam satanizar todo e qualquer prazer que se venha a ter na terra.
Assisti a esse filme com deleite, buscando lincá-lo com uma história da Bíblia que nos fala a respeito de um anfitrião que também ofereceu uma festa. Convidou várias pessoas da sociedade e todas tinham um motivo para não ir. Ao receber as respostas dos convidados, o anfitrião reenviou o mensageiro, agora, com o objetivo de convidar todos os párias, os que compareceram à festa oferecida.
Tanto no filme, quanto na passagem bíblica, a oferta de vida é feita a todos. A vida, a todo o momento, nos reserva alegrias e prazeres. Seja na primeira palavra pronunciada por um filho, num abraço fraterno de um amigo, no resultado de aprovação na escola, no sol que nasce todos os dias, num final de tarde cheio de promessas de descanso. A vida é incansável em sua tentativa de nos ver sorrir.
Recebemos todos os dias a oferta do banquete. Somos sempre convidados à mesa do Anfitrião. Cabe a nós, sempre, a decisão de participar ou não. Mas essa participação deve ser espontânea e aproveitada em cada detalhe. Sem medos, sem preconceitos, sem reprovações, somente gratidão.
À festa de Babette compareceram várias pessoas, a maioria disposta a não aproveitar aquele momento. Porém, aqueles que vinham de fora, de longe, como o general e seu cocheiro, que enquanto aguardava na cozinha, se deliciava com as iguarias ao mesmo tempo em que ajudava Babette, esses souberam reconhecer o valor de algo que era oferecido como o melhor, o tudo de alguém, e esse reconhecimento foi feito da forma mais correta possível: aproveitando e se deleitando com a oferta.
Que saibamos reconhecer os presentes de vida que todos os dias nos são dados. Que saibamos viver com o coração grato pelo que recebemos, sabendo que é o melhor que nos é oferecido.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito do comentário do filme. A essência do filme foi percebida de maneira muito inteligente pela comentarista. Parabéns!