terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Sobre livros didáticos

Hoje, pela manhã, recebi os livros didáticos de espanhol que usarei em uma das escolas em que trabalho. Livros esses ditos "do professor".
Que as respostas a todas as questões já vem, geralmente em vermelho ou azul, nas coleções dos mestres, todo mundo já sabe. Mas o que tem me surpreendido mesmo são os planejamentos das aulas, já com os objetivos e tempo de trabalho, como se todos os grupos de alunos pelo país a fora fossem exatamente iguais. Outra parte interessante (e assustadora) são as avaliações. Sim, ao final dos livros há modelos de testes e provas.
Eu sei, tem professor que adora isso, pois facilita a vida. Nada de horas no computador escolhendo textos e elaborando questões. Nada de pensar muito no que fazer hoje, para a molecada sossegar e trabalhar sem parar.
Sempre lastimei esses "eniquecimentos" ao trabalho do professor (como as editoras chamam). Professor tem que pensar a turma, tem que olhar para cada um, mesmo que de forma panorâmica. Tem que saber observar o andamento do desenvolvimento do grupo, saber seus limites, saber o que cobrar mais e saber como fazer essa cobrança. Tudo bem que nem sempre a gente acerte. É no erro que descobrimos como fazer certo.
Na primeira escola em que fui trabalhar, tive o privilégio de elaborar todo o material de aula e o faço até hoje. A cada semestre, novas avaliações, novos trabalhos, novas provas. Garimpo textos e elaboro questões, adapto o que tenho. Invento jogos e, muitas vezes, peço a opinião dos alunos para fazermos algo diferente. Nem sempre tudo sai perfeito, mas, na maioria das vezes, temos tido sucesso. O fato de os alunos contribuirem oportuniza a eles a chance de também errarem e de perceberem que não é fácil encontrar meios de agradar a todos quando se trata de uma atividade coletiva, por exemplo.
Nas outras escolas, adotamos livros didáticos. Devemos usá-los inteirinhos durante o ano, pois os pais pagam caro pelos livros e eles devem ser aproveitados. Com isso concordo, porque dinheiro não dá em árvore no quintal. Mas não tem porque o professor ficar reproduzindo as avaliações, fazer a correção dos exercícios somente pelas respostas dos livros, sem pensar com os alunos como se chegou as mesmas.
O livro serve para facilitar. Ok, mas não precisamos ser meros reprodutores de suas ideias, sem inovar, sem fazer algo diferente com o material que nos é disponibilizado.
Eu estou aqui, às voltas com os novos companheiros de trabalho, já pensando o que poderei cortar (literalmente, com tesoura mesmo), o que dá para virar jogo, o que pedirei para ser feito em casa, o que fazer em aula e o que jogar no lixo.
Creio que isso faz parte do que sou, como educadora. Mas também agradeço às coordenadoras que tenho, em cada escola, por entenderem essa minha aparente maluquice e me permitirem reciclar sempre, ao pensar no como melhorar minha prática a fim de que meus alunos aprendam de verdade.

Um comentário:

Carina Tondo disse...

Nossa, em pensar que tem educador que passa o ano todo com a cara no livro sem criar nada! Se isso fosse uma maneira eficiente de ensinar, seria mais fácil então estudar por correspondência. Não é só ler o livro inteiro?