Hoje, pela manhã, recebi os livros didáticos de espanhol que usarei em uma das escolas em que trabalho. Livros esses ditos "do professor".
Que as respostas a todas as questões já vem, geralmente em vermelho ou azul, nas coleções dos mestres, todo mundo já sabe. Mas o que tem me surpreendido mesmo são os planejamentos das aulas, já com os objetivos e tempo de trabalho, como se todos os grupos de alunos pelo país a fora fossem exatamente iguais. Outra parte interessante (e assustadora) são as avaliações. Sim, ao final dos livros há modelos de testes e provas.
Eu sei, tem professor que adora isso, pois facilita a vida. Nada de horas no computador escolhendo textos e elaborando questões. Nada de pensar muito no que fazer hoje, para a molecada sossegar e trabalhar sem parar.
Sempre lastimei esses "eniquecimentos" ao trabalho do professor (como as editoras chamam). Professor tem que pensar a turma, tem que olhar para cada um, mesmo que de forma panorâmica. Tem que saber observar o andamento do desenvolvimento do grupo, saber seus limites, saber o que cobrar mais e saber como fazer essa cobrança. Tudo bem que nem sempre a gente acerte. É no erro que descobrimos como fazer certo.
Na primeira escola em que fui trabalhar, tive o privilégio de elaborar todo o material de aula e o faço até hoje. A cada semestre, novas avaliações, novos trabalhos, novas provas. Garimpo textos e elaboro questões, adapto o que tenho. Invento jogos e, muitas vezes, peço a opinião dos alunos para fazermos algo diferente. Nem sempre tudo sai perfeito, mas, na maioria das vezes, temos tido sucesso. O fato de os alunos contribuirem oportuniza a eles a chance de também errarem e de perceberem que não é fácil encontrar meios de agradar a todos quando se trata de uma atividade coletiva, por exemplo.
Nas outras escolas, adotamos livros didáticos. Devemos usá-los inteirinhos durante o ano, pois os pais pagam caro pelos livros e eles devem ser aproveitados. Com isso concordo, porque dinheiro não dá em árvore no quintal. Mas não tem porque o professor ficar reproduzindo as avaliações, fazer a correção dos exercícios somente pelas respostas dos livros, sem pensar com os alunos como se chegou as mesmas.
O livro serve para facilitar. Ok, mas não precisamos ser meros reprodutores de suas ideias, sem inovar, sem fazer algo diferente com o material que nos é disponibilizado.
Eu estou aqui, às voltas com os novos companheiros de trabalho, já pensando o que poderei cortar (literalmente, com tesoura mesmo), o que dá para virar jogo, o que pedirei para ser feito em casa, o que fazer em aula e o que jogar no lixo.
Creio que isso faz parte do que sou, como educadora. Mas também agradeço às coordenadoras que tenho, em cada escola, por entenderem essa minha aparente maluquice e me permitirem reciclar sempre, ao pensar no como melhorar minha prática a fim de que meus alunos aprendam de verdade.
Um comentário:
Nossa, em pensar que tem educador que passa o ano todo com a cara no livro sem criar nada! Se isso fosse uma maneira eficiente de ensinar, seria mais fácil então estudar por correspondência. Não é só ler o livro inteiro?
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