quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Finalizando...

Há tempos não tenho escrito e publicado em meu blog, mas não por falta de ideias ou sensibilidade ao meu entorno. Apenas, as considerações têm se dado em momentos em que não disponho de caneta, papel, computador, tempo para estruturá-las em um texto. Porém, hoje, não me sofri.
Chegando ao final de mais uma etapa na vida docente, olho o ano que passou. Faço meu retrospecto, desde o primeiro dia de aula até hoje. Em vias de concluir o ano letivo, as expectativas já não são tão ousadas, nem os planos tão audaciosos. Muitos esperam, no máximo, que o mínimo tenha sido aprendido.
Eu não sou diferente. Sei que muito do que projetei não se realizou, inclusive porque há projetos que levam mais de 200 dias letivos para serem concluídos, alguns, talvez, nunca o sejam. Também suspiro ao corrigir as últimas avaliações, fazer os últimos pareceres, entregar as últimas chances de certeza de que consegui fazer algo de útil por todos aqueles que têm sentado a minha frente, dia após dia, semana após semana, em dias de chuva, sol, frio, sono, pressões, mau humor, inclusive o meu.
Pergunto-me, nesses momentos que tenho para refletir minha prática, o que ficou de mim, do que falei, do que mostrei? Há coerência entre uma e outra atitude? Ou o que apregoei foi diferente do que pratiquei?
O que levarão esses alunos, seres cheios de almas, de fragilidades, incertezas, aspirações, sonhos, superações? O que terá ficado de mim neles? O pretérito imperfeito da gramática espanhola? O adjunto adnominal da análise sintática da língua portuguesa? Talvez as nuances entre claro-escuro do Barroco Italiano? Isso tudo importa, disso tudo se faz a cultura almejada, mas nem só disso se faz uma pessoa. Além das crases e artículos, gostaria que meus alunos levassem certezas de que a vida é melhor vivida junto aos outros, de que ouvir é melhor do que falar, de que ser crítico é bom, desde que se tenha argumentos sólidos, de que ser solidário é a melhor forma de espelharmos o belo.
Iniciei meu ano de 2009 cheia de desafios estimulantes. Ganhar fôlego para a empreitada que teria pela frente era um deles, continuar a acreditar que é possível educar para a vida, a cidadania e o bem era outro.
Sei que tenho um longo caminho a percorrer como educadora, como profissional da educação, como professora (palavrinha desgastada ultimamente), mas começo minha aprendizagem com a coragem de reconhecer minhas necessidades e limitações, de saber que algumas de minhas aspirações talvez nunca se concretizem, de que sonhar demais pode ser doentio, mas que não sonhar nos mata um pouco a cada dia.
Certa vez, um de meus mestres me disse que quando entramos em uma sala de aula devemos ter um ideal e junto a esse ideal, os pés bem no chão. Tenho seguido essa premissa e assim evitado sofrimentos e desgastes que só trazem cansaço e descrédito àquilo que faço.
Busco meu aprimoramento profissional, atualizações, repensar a prática, seguir os planejamentos exigidos pelas instituições em que trabalho, mas não me esqueço nunca de que antes disso sou gente que só se completa com outras gentes, que acredita que só se faz educação de forma horizontal entre educador e educandos e que a escola é lugar para a liberdade, para os questionamentos, para a diversidade.
Então, olhando os meses passados e contabilizando as perdas e ganhos, posso concluir que tivemos ganhos, enormes ganhos. Fiz o que acreditei ser o melhor, mesmo que esse melhor já não o seja para o próximo ano, mesmo que algumas vezes eu tenha que ter retrocedido e pedido desculpas. Levo comigo e deixo com meus queridos alunos todos os dias passados juntos, os abraços e as chamadas de atenção, os beijos e os conselhos, as trocas dos vários saberes, a amizade. Levo comigo, para minhas férias, os sorrisos, as risadas, a despreocupação. As caras feias, os narizes torcidos, as reclamações ficam somente na lembrança das paredes de tijolos. Elas, sim, devem ter histórias chatas para contar, eu não.

5 comentários:

Anônimo disse...

Essa é a super prof. Aninha...sucesso

Anônimo disse...

as vezes fazer o que pensamos e acreditamos vale apena mesmo que não obtivermos exeto o que vale e o que tentamos eo que nossa conciencia manda sempre vale tentarmos
um grande bjo e um bom fim de semana e um otimao fim de ano letivo
bjos
Ivanir

Anônimo disse...

Ane,

Adorei o texto. Faz lembrar muito do que todos nós, professores de verdade, sentimos no término de um ano letivo. És um encanto de pessoa, uma mulher batalhadora, uma amiga, uma profissional muito dedicada e competente. Portanto, maestra, só tenho que te dizer que adoorooo estar ao teu lado. PARABÉNSSS.

Um mega beijo no teu coraçãoooo!!!


Laura Correa

Levi Nauter disse...

Considero que teu texto começa a amadurecer. Nele já aparece das agruras docentes.

Até,

LNM

Anônimo disse...

Ane, belíssimo texto. Lamento não conseguirmos conversar e trocar idéias o quanto gostaria neste trabalho docente, mas compartilho tua preocupação com a educação, construída a partir de cada ato educativo reconhecido como tal. Educar (filhos, alunos...) é sempre uma aposta. E transmitimos coisas para além de nosso próprio (re)conhecimento.

Um grande abraço,
Denise Quintão