domingo, 19 de setembro de 2010

Em Buenos Aires

Confesso: enquanto os dias iam passando e a ida a Buenos Aires ficando mais próxima, eu já andava me arrependendo de ter pedido para ir. Quem não conhece o contexto, talvez estranhe. Afinal, a capital portenha é destino desejado de muitos. Mas no caso, tratava-se de acompanhar 68 alunos na faixa etária dos 13 anos em uma excursão de cinco dias, viagem de ônibus (em torno de 20 horas só para ir!) e mais um montão de passeios por Bs As.
Quando o dia 13 chegou, eu já estava quase deprimida. O terror da ideia de cuidar dessas crianças era maior do que qualquer outro sentimento. E mais, eu estava com medo.
Primiera vez que me embrenharia por aquelas bandas com tanta gente. Acostumada a viagens de apenas duas pessoas, andar com um bando de garotos e garotas a mil por hora me deixava em pânico.
Durante o percurso até lá, não dormi direito, não comi direito, não aproveitei direito. Porém, ao pôr os olhos na cidade querida e poder fazer parte do deslumbramento dos meus alunos por estarem, finalmente, e muitos pela primeira vez, em outro país, mandou embora qualquer apreensão que eu já havia sentido.
Foram três dias na Argentina sentindo cheiros, provando sabores, descobrindo pelo olhar dos meus adolescentes como a vida tem cor, alegria e amizades.
Foram dias de festa, de descobertas, de amadurecimento e companheirismo que eu sei, e os outros professores que estavam lá também, que jamais deixarão de fazer parte das lembranças mais queridas de nossos alunos.
Formandos do Ensino Fundamental, eles encerram um ciclo de suas vidas com a experiência de terem vivido dias em que puderam saber o que é tomar decisões, apoiar-se em outros, saber controlar os medos e a saudade. E muitos entenderam que há muito mais para se ver, ouvir e viver do que os metros quadrados que o cercam, que o mundo não é uma redoma de vidro intransponível e que a felicidade deve ser buscada, cultivada em cada passo que a gente dá.
Voltei leve e feliz, agradecida por ter tido a honra de compartilhar esses momentos únicos com eles, de poder fazer parte dessas descobertas, de poder ter recebido a confiança e o carinho deles enquanto estivemos fora.
Esses dias me fizeram ver que o mundo só tem esperança porque podemos acreditar que experiências renovadoras ocorrem, que há gente que ainda precisa descobrir o mundo e amá-lo, capaz de buscar melhorá-lo sempre.

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