Os monges em Laos |
Criança da tribo catcat em Sapa, Vietnã |
As montanhas de Sapa |
Mercado Flutuante, Tailândia |
As ruas de Hanoi, Vietnã |
"Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos". José Saramago
Os monges em Laos |
Criança da tribo catcat em Sapa, Vietnã |
As montanhas de Sapa |
Mercado Flutuante, Tailândia |
As ruas de Hanoi, Vietnã |
Ko Phi Phi de manhã |
Maya Bay |
Na Monkey Island, bichos que bebem nas garrafas |
Águas verdes profundas |
Pôr-do-sol surreal |
Rua Kao Sam Road |
Mercado Flutuante |
Em uma das ruínas de Ayttaya |
Ponte sobre o Rio Kwai |
Gran Palace |
Sei que tenho abandonado um pouco o blog, mas o trabalho tem me exigido dedicação e para escrever preciso que alguns fatores cooperem: tempo e inspiração. Hoje, não tenho tanto tempo assim, sobrando, mas a inspiração está fazendo-me doer a cabeça. Ou escrevo ou escrevo.
E escrever sobre o quê? Retomo o tema colegas, texto que publiquei aqui, emocionou algumas pessoas e que me deixou feliz por vê-las assim, pois não conheço escritor, famoso ou não, que não queira tocar os corações de seus leitores através do que escreve. Então, convenhamos, o assunto não se esgota em apenas umas linhas, pois a cada novo dia me surpreendo mais e encontro nesses seres humanos tão singulares a certeza de que eu nasci mesmo para viver no meio dessa gente. São pessoas que labutam, que levam seu dia a dia, sua profissão, com dignidade, que não se contentam em fazer o apenas cobrado, mas fazer o melhor. São homens e mulheres que conseguem equilibrar estados emocionais os mais diversos para se apresentarem inteiros ao oficio do educar. Não são hipócritas ao ponto de ostentarem a bandeira do “da porta pra dentro sou outra pessoa”, não, eles ainda sofrem ou se preocupam, ou esperam por algo, mas as emoções são comedidas, controladas, entrevistas somente nos poucos suspiros que ouvimos ao longo do dia.
Entre colegas, tenho aprendido que as relações são frágeis a ponto de alguém sabotar outro, às vezes por inveja, despeito, busca por oportunidade, mas fortes o bastante para superarem mau humores, lágrimas enxugadas às pressas, nãos bruscos, perdas familiares, separações, desafetos.
Ser colega é conseguir esquecer-se por alguns momentos e ver no outro a possibilidade da amizade, mesmo que ela dure até um dos dois ir embora ou ficarem em horários alternados. É se ter a sensibilidade de entender que por trás do uniforme tem gente como a gente. E que, assim como desejamos ser entendidos e respeitados em nossos momentos, devemos fazê-lo com os outros. E, acima de tudo, dar-se conta de que nem tudo o que se pensa é para ser dito, escarrado nos outros, simplesmente porque são obrigados a ouvir. Devemos ter a consciência de que na dor alheia não se mexe, não se toca a não ser para curar. Que sejamos, em nosso ambiente de trabalho, as mãos que curam, os ouvidos que escutam, o ombro que se oferece para o choro silencioso, a mão que afaga. Em qualquer lugar, a qualquer momento, o que nos torna mais ou menos humanos é o saber cuidar dos outros e não há melhor forma de fazê-lo do que com nossos colegas.
Férias, benditas, merecidas e esperadas férias!
A maior parte das pessoas com a qual convivo, que trabalha em instituições de ensino, está se deleitando com seus dias de ócio. Nas redes sociais, fico entre curtir e comentar as várias fotos de momentos nas belas praias gaúchas e catarinenses, junto aos amigos e família, todos com largos sorrisos nos rostos. Pois é, trabalhamos tanto, suamos tanto durante o ano que esses dias só podem ser mesmo de festas.
E, embora eu não esteja viajando, também tenho descansado, sem horário pra comer, dormir, acordar, ler, rir, assistir a filmes, enfim, relaxando. Porém, assim como o sol surge todos os dias, chegará o momento de ajustar o despertador para as 6h da manhã, chegará a hora de tirar o uniforme do armário, dar uma passadinha pra fazer bonito no primeiro dia, chegará o tempo de encher as bolsas e mochilas de materiais, de sujar novamente as mãos no pó do giz, ou nas tintas coloridas dos pequenos, de pendurar o crachá no pescoço e trabalhar.
Falando assim, até parece o tão profetizado fim do mundo em 2012, porém o que podemos e devemos esperar são dias de compromisso, sim, de disciplina com horários e prazos, também, porém, de encantos, momentos de novas descobertas, de novos rostos e corações nos esperando, sentados ou em pé, tanto faz, mas estarão lá, todos no horário marcado, todos esperando...
Para alguns, o magistério se tornou um mal necessário. Aos alunos, uma obrigação imposta pelo governo e os pais, aos professores uma necessidade econômica. Entretanto, para muitos e muitos mesmo, é a oportunidade de conciliar sonho com realidade, esperança com pé no chão, oportunidade com empreendedorismo, conhecimento com vontade de saber.
Embora, todos adorem as férias, principalmente porque significa missão cumprida no ano que passou, há um momento que cansa, há um dia em que a gente acorda querendo mais do que sol e mar, não que não o desejemos mais, mas parece que falta algo, que os dias estão ficando longos demais. Os sonhos mudam, outras faces entram neles, outros ambientes, outras vontades. Acordamos, enfim, sabendo que chegou a hora de um recomeço-continuação, pois tudo é processo. Chegou a hora de voltar ao nosso lugar e de descobrir, de novo, como somos felizes com o que escolhemos para ser, com o que fazemos, com o que proporcionamos a outros fazerem, felizes com viver no mundo do conhecimento, do saber, da ciência, da cultura, do valor à estética e ao questionamento.
Tine o despertador, voltamos. Abraços e sorrisos dos colegas, entrega novamente de nossas vidas à educação.
Hoje, quero falar de pessoas especiais e embora não seja sobre alunos, tem tudo a ver com eles, apesar de não ser sobre família, faz-me sempre recordar dela. Hoje, vou falar sobre colegas.
Colegas são esses seres que entram na nossa vida sem convite, pois somos obrigados a conviver com eles. Não há escolha: ou aceitamos ou nos demitimos e como todos precisamos viver... abaixamos a cabeça e nos entregamos a todos eles, sem exceção, pois ela não existe.
No meio das relações profissionais, do bom dia, boa tarde, como vai, tudo bem, aparece aquele sorriso de boas vindas ao novato, inseguro e cheio de medos, mesmo entre a espuma da pasta de dente na hora da escovação, no banheiro atulhado de gente correndo entre um turno e outro.
Depois de um tempo, ou com alguns, de algumas horas, as conversas brotam naturais e um dia, num dia em que tudo parece dar errado, sentimos uma mão afagando nosso ombro e um ser, até então estranho, nos diz que vai dar tudo certo e não tanto suas palavras, mas muito mais sua atitude solidária traz o sol para perto de nós.
Já passei por várias instituições tanto de ensino quanto de comércio, há colegas que nunca mais vi e sei que não verei, há aqueles que se tornaram amigos e frequentam minha casa mesmo depois de não sermos mais colegas de trabalho, mas todos eles, independente da medida, fazem parte de quem sou.
Nesses estranhos tão íntimos é que encontramos coragem para olhar no espelho todos os dias e saber que fazemos parte de algo maior do que podemos imaginar. É com eles, com os colegas, que passamos a maior parte de nossos dias, e é deles, na maioria das vezes, que recebemos cuidado e atenção.
Foram colegas que enxugaram minhas lágrimas quando eu me sentia derrotada, foi de uma colega que recebi o abraço mais sensível de minha vida quando pensei em desistir, de colegas ouço as piadas e histórias mais hilariantes.
Tenho colegas que só de olhar para mim sabem que não estou bem. Tenho outras, abertas ao riso, que permitem que eu abra seus pacotes de biscoito e os coma antes delas, as donas.
Colegas que na carona para casa me divertem, me escutam, me aguentam, mesmo correndo perigo, mesmo tendo que gritar ‘olha o carro’, ‘cuidado’, ‘ainda bem que tenho seguro de vida’.
Tenho colegas que cuidam do meu lanche. Que me trazem guloseimas, que se dão ao trabalho de certificarem-se de que estou comendo bem.
Tenho colegas que me emprestam dinheiro para o almoço, pois às vezes eu esqueço. Outras, que me enchem de cheiros bons com seus Avons e Naturas.
Tenho colegas que abrem as portas das salas de aula quando não encontro minha chave em meio ao material que carrego, colegas que me sorriem entre os metais dos aparelhos, colegas que simplesmente suspiram e me olham.
Há também aqueles com abraço de urso, literalmente, pois quase me dobro ao meio para corresponder, mas que prefiro o desconforto momentâneo a perder a oportunidade de um carinho.
Tenho colegas anjos, colegas duendes, colegas fadas madrinhas e colegas mágicos. Todos eles, talvez sem ao menos se darem conta, colam os pedacinhos de minha existência com cola colorida. Costuram os rasgões, fazem remendos como numa colcha que espero lhes dê orgulho de olhar no final. São meus colegas, homens e mulheres, que têm me ensinado a perdoar, relevar, argumentar, esperar minha vez, me indignar, nunca menosprezar nada nem ninguém. Têm me mostrado que é possível o ser humano ser bom, apesar de ter atitudes más, pois sempre há um ângulo novo pelo qual olhar, há sempre um dia de cada vez, sempre um período depois do outro e que eles só duram cinquenta minutos. E que a vida é muito mais interessante quando compartilhada, mesmo que seja só nos vinte minutos do intervalo.
Conversando com colegas e amigos, por vezes surge o tema violência urbana. São crianças que não podem mais brincar tranquilamente nas ruas, investimentos em grades para as janelas, cercas elétricas, alarmes e câmeras de segurança. Os idosos que não podem fazer a feira, visitar os amigos e parentes. Até podem, mas sozinhos nunca. E os adolescentes? Não podem mais sair de casa sem levar o celular, sem deixá-lo ligado mesmo no cinema, na balada, no encontro. São outros tempos, dizem, tempos dos condomínios fechados.
Segurança virou item de luxo e dane-se quem não pode pagar para ter sossego na hora de ir trabalhar, estudar ou mesmo dar uma voltinha descompromissada fora de casa. Por isso, quando conto que onde moro as crianças andam de bicicleta até tarde no verão, a maioria das casas não tem grades nas janelas, as roupas ficam tranquilas no varal, há casas sem nenhum tipo de cerca, a não ser as vivas e que da minha casa posso ver as máquinas de lavar dos vizinhos, posso ver suas tevês de LCD e mais algumas coisinhas, e que não se trata de nenhum condomínio fechado, o povo me olha sem acreditar.
Mas onde tu moras???
Não moro, eu brinco, me escondo. Na verdade, meu bairro é afastado do centro da cidade, beeemmmmm afastado, digamos. Durante nove anos nem ônibus passava no residencial, antes chamado de loteamento, ficou chique e mudou de status esse ano. Aqui, lugar que é longe de muita coisa como hospital (mas tem posto de saúde, creche e locadora de filmes), bancos, grandes supermercados, parques, grandes escolas, prefeitura, padarias (o dono do mercadinho que não me leia), aqui, onde ainda existem corujas, onde os beija-flores voam espanando as flores no meu jardim, onde passarinhos me acordam de manhã, se não passarinhos, as risadas da criançada brincando na rua, onde se pode usar o notebook na calçada, tomar chimarrão com os vizinhos quase no meio da rua, onde todo mundo conhece todo mundo pelo nome, dá pra se ter a impressão de que o mundo é maravilhoso.
Então, por essas e outras, continuo não abrindo mão do sossego, de poder sair tranquila de casa, de poder ver a vizinhança crescer, vizinhança infanto-juvenil. Não abro mão de viver tranquila, mesmo tendo que fazer uma viagem de quase quarenta minutos até meu trabalho, se eu for de ônibus, sendo esse no centro da cidade. Não há preço tão alto, nos dias de hoje, que não possa ser pago para se ter paz e quando é de graça melhor ainda.
Há muito que se sabe que ser professor extrapola o dar a matéria, o cumprir calendários, o transmitir conhecimento. Mas, trabalhando em todas as séries da educação básica, a que mais me surpreende, ainda, é a educação infantil.
Se você, mesmo que por um ínfimo instante, já pensou que seu tempo neste mundo estava com prazo de validade vencido, leia esse texto até o fim, pois é sobre nós.
Hoje é segunda-feira e só isso já valeria meu mau humor, mas ele me deu uma rasteira, e se avolumou de uma forma quase palpável. Os que se aproximaram de mim, logo deram um jeito de se afastar, eu estava, de verdade, insuportável.
Levantei mais cedo que de costume, pois quebraria minha rotina com a necessidade de ir de ônibus até o trabalho. Nada contra o coletivo, ou as pessoas que dele fazem uso, mas eu odeio andar de ônibus. Antigamente, amava. Era uma viagem tranquila, em que pessoas conversavam sobre seu dia a dia, outros, os intimistas como eu, entravam em outra dimensão com seus fones de ouvido ou suas leituras recolhidas, mesmo que de um jornaleco qualquer. Era normal andar de ônibus, ir ao trabalho, à faculdade, para ver uma amiga. Hoje, é a sucursal do inferno. Em dia de chuva, então, tem-se a impressão de que não se chegará ao destino, pois será necessário descer antes.
Enquanto esperava no ponto, com a umidade a me empapar os cabelos e encharcar até os ossos, me acalmava com a ideia de fugir um pouco da responsabilidade de dirigir. Será legal, pensei. Vou poder ler em paz. Que vã esperança. Ao entrar no verdinho, me deparo, assim de cara, com um casal ouvindo uma música de péssimo gosto, sem fone nenhum, na caixa mesmo, para todos os passageiros apreciarem aquela mistura de vulgaridade e bateção de nada.
Sentei-me perto da janela, longe da balada improvisada, e tentei, juro, me acalmar. Peguei meu Carpinejar e comecei a ler. Consegui me afastar daquele mundo dos sem-respeito-pelo-ouvido-alheio e entendi e me estendi por algumas crônicas.
Cheguei ao trabalho e tudo o que ouvi desde então foi: mas que cara, tu estás com uma cara, mas o que tu tens?, tu precisas tomar alguma coisa, isso vai te fazer mal. Não, não vai, já está fazendo. Afastei-me o mais que pude, trabalhei normalmente, ser professora nos exigi fingir, participei de uma reunião curta, fui para o ponto de ônibus a fim de voltar para casa. Resolvi pagar mais, descer um pouco mais longe de minha casa só para ter a certeza de mais privacidade. Fui de lotação.
No caminho até em casa, muitos pensamentos, inclusive o de que está na minha hora mesmo de ir para outro mundo, porque esse me parece estranho demais, mundo em que as pessoas não reconhecem mais limites, não entendem que há momentos em que se deve respeitar o silêncio, ou pelo menos, abafar os seus próprios sons, pois eles são particulares, não são para os ouvidos de todo o mundo, simplesmente porque pode o todo mundo não suportar o seu som, o seu gosto pelo seu som, mas não tenho como dar o salto mortal, pois amo demais a vida que tenho, mesmo precisando pegar o ônibus toda a segunda-feira para meu marido poder ir à faculdade com segurança. Além disso, não tenho coragem, tenho é curiosidade para saber o que acontecerá daqui a pouco. Não quero perder essa novela tão boa que é a da minha vida e como cortar os pulsos é muito dolorido, não tenho arma, nem veneno e minha casa só tem térreo, sigo vivendo e esperando para ver que outra doideira o mundo vai inventar. No final das contas, no caminho para casa depois de descer do ônibus, passei na padaria, comprei um pacote de meu salgadinho preferido e uma caixa de Bis e estou aqui a me compensar, afinal, venci mais um dia que havia dado a entender que terminaria horrível, mas está repleto de sabor, ao meu som, sem incomodar ninguém.
Cartas, sim. Cartas que foram escritas durante mais de dez anos entre mim e meu marido, desde o início de nosso namoro. Na primeira que peguei, a emoção já me tomou. Era a que eu havia escrito em comemoração ao nosso primeiro ano juntos. Enquanto eu lia, ao som, coincidentemente, de uma de minhas músicas preferidas de Lenine, Paciência, não me aguentei e chorei. Encontrei naquelas linhas, escritas com esmero, uma paixão avassaladora, de alguém que, aos dezenove anos, acreditava em um amor para a vida toda. Cada palavra parecia escolhida para demonstrar sentimentos muito verdadeiros, muito puros, cheios de esperança em uma vida maravilhosa, cheios de sonhos ao lado de um homem maravilhoso.
Mas minhas lágrimas não foram motivadas nem pela trilha sonora, nem pela nostalgia, mas pela certeza, absoluta, inconfundível, de que eu, hoje, passados 14 anos, não mudaria uma palavra sequer. Diria tudo novamente, exatamente como ali naquela antiga carta.
Chorei pela comprovação de que minha paixão daqueles primeiros anos não arrefeceu, mas tornou-se um amor seguro, forte, decidido; chorei porque o amor em que eu acreditava naquela época me provou ser insuperável, vitorioso e senhor de meu coração; porque minhas esperanças não foram vãs; porque meus sonhos ao lado de um homem maravilhoso, o mesmo destinatário daquela carta, têm, todos eles, se cumprido por ele, para ele, para nós.
Guardo cada uma das cartas, cartões, marca-páginas e recadinhos que nos trocamos desde que nos conhecemos. Li alguns hoje, enquanto organizava-os em uma nova e mais ampla caixa. Toda nossa história de amor está ali, cada desafio superado, cada pedido de perdão, cada confissão de amor eterno, cada desejo, cada pedido. E não sei por quanto tempo essa nova caixa dará conta de todas essas palavras e promessas porque nossa história não acabou, continua sendo escrita e compartilhada, continua tendo sonhos, esperanças, declarações de amor. Nem todas registradas em cartas, mas todas sentidas, expressadas por nossos olhares, nossos toques, nossas descobertas e cumplicidades.
Não há caixa que comporte tanto amor, tanta certeza de estar ao lado da pessoa certa, do amor certo, para a vida toda.