sexta-feira, 22 de junho de 2007

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Lendo as postagens de um cunhado muito querido, senti-me instigada a escrever novamente. Nem sei se o farei com a regularidade que ele, majestosamente, o faz, mas com a vontade desse momento. E volto a frisar, como já o fiz em um de meus textos, que não é a falta de palavras ou do que se ter para dizer, mas o tempo, diminuto a cada dia, que me escorre entre os dedos e me impede de saborear os instantes inefáveis da criação.
Existe algo que vem me perturbando, visto a frustração que sinto, que são os confrontos que meu idealismo, talvez utópico, tem tido com a realidade crudelíssima do dia-a-dia do sistema vigente escolar.
Dia desses, em uma aula que prometia ser de sucesso total, com alunos (lembremos que adultos de uma escola particular) estimulados, animados e tudo mais ocorreu o desastre total. Não era nada muito difícil, apenas organizar grupos para discutirem as escolas artísticas modernas. O problema surgido não tinha nada a ver com falta de capacidade mental ou de conhecimentos prévios sobre o tema, apenas não conseguiram, durante 100 minutos, se organizarem em grupos. O que partiu de um questionamento de “quem vai ir para meu grupo” chegou às lágrimas de uma moça ofendida com o desrespeito de um colega, demonstrado pelo palavreado vulgar, chulo e xingamentos.
Enquanto eles discutiam, um querendo falar mais alto do que o outro, me perguntei o que, afinal, eu estava fazendo ali. Me senti a inutilidade em pessoa, anos de faculdade, centenas de leituras, uma pós-graduação em andamento e eu não fui capaz de contornar a situação e evitar maiores conseqüências. O que ouvi deles a respeito de meu comportamento? Que eu deveria me impor, simplesmente mandar e mandar todos calarem a boca, considerando que eu deveria dirigir essas palavras para adultos de um curso noturno que, presumo por isso, se julguem incapazes de controlar seus impulsos agressivos, como primitivos selvagens.
Fui para casa com tantos questionamentos na mente me perturbando e o mais pungente é de quem é a culpa desse comportamento de espera por leis e regras dadas por outras pessoas, que faz com que alunos adultos exijam dos professores atitudes e posturas de autoritarismo e que não conseguem, quando oportunizado, usufruírem de momentos de liberdade quanto à escolha de temas e parceiros para atividades?
Eles mesmos me dizem que não posso “dar mole”, “ser boazinha”, “deixar à vontade”. Quem os ensinou a serem assim? De onde vem essa idéia, essa exigência? E me vejo tão perdida quanto antes, tão frustrada quanto no dia do reboliço, tão confrontada com a cruel realidade de um sistema educacional falho e desonesto com o ser humano, que não consigo deixar as perguntas de lado, não consigo encontrar respostas entre tantos porquês, entre tantas incógnitas. Espero que o tempo e a experiência me mostrem os caminhos a seguir, que eu consiga manter o idealismo sem deixar de ter os pés no chão, que eu não permita que o sistema me torne medíocre, achando que não há solução plausível. Espero, sinceramente, não ser atingida por aqueles que me dizem que o jeito é fingir que ensino para os alunos fingirem que aprendem.

Um comentário:

Levi Nauter disse...

Olá, Ane!

Que bom ler mais um texto teu. Estava com saudades.

Agradeço aos elogios que muito me honram e me dão responsabilidade de continuar pelo menos empatando com os demais. Enfim, obrigado.

Quanto ao tema, sempre gostei desses desabafos dessa exposição à la Lispector, minha guru na escrita feminina. Para mim texto é isso, expor os podres, as inquietações.

Espero que ninguém venha receitar passos para que isso nunca aconteça contigo. Isso é parte da vida, só aprendemos brigando. Eu, particularmente, cheguei até ser expulso, imagina.

Por fim, estamos (eu e alguns amigos e amigas com ligação direta com a educação, a teoria e a experiência política) pensando em criar uma rede de diálogo sobre aquilo que não lemos nos livros. A coisa ainda está verde, mas amadurecendo. Talvez tenhamos novidades.

Continue escrevendo.

Abraços,
Levi Nauter.