domingo, 8 de março de 2009

Jornadas Pedagógicas - uma reflexão sobre a crise

Antes do início das aulas, as escolas sempre preparam momentos para reuniões, são as chamadas jornadas pedagógicas. Nos dias destinados a tal, geralmente dois ou três, as equipes diretiva e pedagógica dão informações sobre a organização do ano letivo, normas da escola, recebem os novos professores, abrem espaço para discussão e oferecem momentos de planejamento de aulas e projetos.
Nesse ano de 2009 não foi diferente. Participei de três jornadas, contabilizando oito encontros. Esse tempinho no início do ano é fundamental para nossa volta ao trabalho. Revemos os colegas, interagimos, planejamos, tiramos dúvidas, sentimos o clima da instituição para o recomeço das atividades. E esse clima, em todas as escolas em que trabalho, foi marcado pela palavrinha que anda tendo lugar de destaque em todos os proferimentos: crise.
Em algumas instituições pudemos sentir na pele, ou melhor, no bolso, a tal crise. Redução de carga horária, e de salário, e discursos não menos dolorosos.
Uns apostaram na motivação, com palestra encomendada a fim de nos dizer que tudo vai bem, obrigado, vamos tocar o barco, porque ter sucesso depende unicamente de nós (os professores, óbvio); outros não aguentaram a pressão e discursaram e discursaram sobre a crise, sobre a baixa no número de alunos matriculados, sobre a redução de turmas e consequentemente de horas/aula, e quem não estiver contente que saia da instituição. O tom de voz aumentando e se brutalizando, nós petrificados, sentados, imóveis, diante do terrorismo psicológico. Já sabemos que se estivermos descontentes devemos sair. Ninguém precisa nos dizer isso. Até porque é loucura trabalhar sentindo-se uma prostituta, fazendo o que não se quer, somente por dinheiro.
Outra escola foi mais simpática, franca, porém tranquila. Ouvimos falar da crise, mas como oportunidade de crescimento. Passamos momentos discutindo metodologias, projetos, assistindo a palestra sobre educação, trabalho em sala de aula, afeto com os alunos, trocas das mais importantes.
Observei, nesses momentos de volta ao trabalho, um reflexo do que nossa sociedade anda vivenciando. Falam de crise o tempo todo, uns apregoando o quanto estamos empobrecendo, quanto tempo levaremos para nos recuperar, o caos no mundo capitalista. Outros, superando-se a cada dia, encontrando, como sempre o fizeram, solução para os problemas, sendo pragmáticos e pés no chão, e vivendo como sempre viveram.
Se há crise, nós a agravamos com o medo, o receio de acreditar no que fazemos, perdendo oportunidades de melhorarmos, de usufruirmos de nosso trabalho, de termos prazer naquilo que acreditamos.
Se não há, então, somos mesmo um bando de loucos.
Eu prefiro continuar crendo na capacidade da superação. Seja na crise ou em outra circunstância qualquer, devemos sempre buscar o aperfeiçoamento, a melhora, a correção de erros antes cometidos, a renovação de nossa crença e nossa esperança. Devemos mesmo é continuar trabalhando, apostando na inovação, acreditando no ser humano e nas suas múltiplas formas de ser e de pensar no e sobre o mundo que o cerca, contribuindo para expandir seu universo.
Se há crise, não me vejo nela. Continuo acreditando sem deixar de ser realista, percebendo o mundo em que vivo e seus problemas, sem deixar de pensar no futuro. Movendo céu e terra para realizar meu trabalho com competência, porque dele dependem outras pessoas, seres para quem eu construo não só o presente, mas o futuro e para quem gostaria de deixar um passado que vale a pena relembrar.
As jornadas pedagógicas, ano após ano, continuam tendo seu valor para nossa prática, só lamento termos perdido momentos preciosos de debate e reflexão enquanto profetizávamos nossa própria morte.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi, Ane!

Muito interessante o teu texto. A crise existe para quem acredita nela.

Em outubro meu filho foi efetivado na empresa em que trabalhava como estagiário. Em dezembro veio a crise ele falou: - Começaram as demissões, como fui contratado agora talvez eu seja demitido pois começaram pelos mais novos na empresa.
Respondi: - Não te preocupes com isso. Abaixa tua cabeça em cima do teu trabalho e faz a tua parte. Se acontecer, paciência. Vai em busca de outro trabalho. Trabalhei 35 anos em empresas privadas ( em cinco), deparei-me com várias crises, enfrentei-as com determinação e sempre mantive meu emprego. O importante é estarmos sempre com o olhar voltado para cima e não para baixo.
E as escolas particulares, lamentavelmente, viraram empresas; e, como empresas, têm ou não uma boa administração.
Tu estás certa, vamos usar o tempo que temos trabalhando com entusiasmo e olhando para cima, para o horizonte que temos pela frente. Mais do que sonhar, é preciso realizar. No entanto, para realizar é preciso acreditar. Se alguns não acreditam, ficarão para trás. Nós seguiremos em frente. Firmes. Fortes e confiantes. Um abraço. Jô


Em tempo: Meu filho continua empregado.

Um beijo. Jô

Anônimo disse...

Ane,

Oportunas as tuas reflexões. Certamente que a linha adotada por cada instituição de ensino nas Jornadas Pedagógicas retratam sua concepção de educação e qual o lugar atribuído ao professor nesta tarefa. Todavia, penso que importantes temáticas podem ser debatidas nestes momentos, assim como a troca de experiências, estimulando idéias para o desenvolvimento de projetos...

Se considerarmos a educação como possibilidade de aprendizagem de coisas novas e de transformação, até mesmo uma situação de crise pode ser entendida como uma convocação à invenção de saídas. Mas, sem dúvida, nem o centramento da responsabilidade no trabalhador/professor, nem o discurso "terrorista" vão trazer soluções, mas sim, um trabalho integrado entre escola e seus professores/colaboradores.

Parabéns pela coragem de expor idéias desta ordem. É necessário olhar de frente os problemas e investir na qualidade de nosso ensino, pautado por uma reflexão crítica. Percebo que precisamos falar um pouco mais sobre nossas concepções de educação...

Denise Quintão

Anônimo disse...

Oi Ane!!!

Adorei o novo texto do seu blog!!

Parabéns!!!!


Douglas