segunda-feira, 15 de agosto de 2011

A mão que segura o pincel

Há muito que se sabe que ser professor extrapola o dar a matéria, o cumprir calendários, o transmitir conhecimento. Mas, trabalhando em todas as séries da educação básica, a que mais me surpreende, ainda, é a educação infantil.

Se alguém precisar saber o que é ser um professor na íntegra, olhe atentamente para as professoras da educação infantil, seja de que ano for. Elas não estão presas a apostilas e semanas de provas, nem precisam quantificar seus alunos. Elas não precisam fazer cara de paisagem, não precisam usar máscaras de mestres nisso ou naquilo, nem deixar de ser quem são como pessoas.
Elas são as professoras que cuidam, que fazem projetos sobre o que os alunos realmente querem aprender, exploram o mundo pelos olhos deles, levando-os a outros mundos, inclusive interplanetários.
Elas conseguem fazer com que seus alunos entrem dentro, literalmente, do corpo humano e em suas aulas podemos conviver pacificamente com os dinossauros, porque eles não estão em extinção.
Com as professoras da educação infantil o amor tem sabor de chocolate, e garrafas pet são desde aranhas teimosas a discos voadores.
Lá, na aula delas, naquelas salas enfeitadas e coloridas, cheias de letras-borboletas ziguezagueando pelo teto e as paredes, ouvem-se sons de brinquedos e brincadeiras. Lá, dá para deitar no chão, rezar antes de fazer o lanche sem sentir vergonha, pedir perdão e abraçar o amigo a cada palavra errada que se pronuncia. Lá, dá pra cantar bem alto sem mesmo saber a letra da música.
Nas aulas de educação infantil, com aquelas professoras-fadas-madrinhas, fazer xixi na roupa não dá motivo para a risada, mas para o cuidado. Chorar de mansinho a perda do brinquedo suscita o abraço. Lá dá para ser diferente, porque a diferença é exaltada e não rotulada.
Com essas cinderelas da educação, dá até para ganhar um colinho, fazer manha de vez em quando, dizer “não gosto”, “não quero”, “tô com sono” ou perguntar a todo instante “tá na hora do lanche?”.
As professoras da educação infantil são inteiras, porque educam com a alma e têm a percepção sagaz para entender quando é hora de fechar os olhos para o mundo apenas para fazer seu aluno feliz. Elas não se importam se a apresentação para os pais terminou, se um aluno não conseguiu fazer suas bolhas de sabão na hora certa, elas são capazes, e o fazem, ah se o fazem, de parar o tempo para dar a oportunidade de aqueles olhos pueris brilharem novamente.
Se crerem que estou aqui a me elogiar, ledo engano. Dou aulas na educação infantil, mas não chego nem perto da capacidade, da competência que observo todos os dias nas turmas de colegas dedicadas além de si mesmas, que realmente se comprometem com quem está ali, não só a frente delas, mas aos lados, atrás e muitas vezes, escondido embaixo das mesas.
Os primeiros anos escolares de uma criança não poderiam ser melhores do que estes, em que aprendem a olhar a escola como o lugar onde a mágica acontece, onde a fantasia se materializa, onde o conhecimento é a base para uma vida mais feliz e completa, porque as professoras da educação infantil são aquelas que não pintam pelo aluno, mas que seguram o pincel para que este não caia, para que o desenho seja concluído mesmo que seus nomes não assinem a obra prima.
Ainda não é o dia dos professores, mas depois de quase três anos convivendo com essas guerreiras, eu não poderia deixar de prestar-lhes minha homenagem. Muito do que sou como profissional aprendi com elas, principalmente a ver o mundo com mais cor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ane!! Eu adoro a educação infantil, até hoje não esqueço da minha época na qual estudava, tenho em minha memória algumas músicas, brincadeiras e até o cheiro da sala de aula..Os professores da educação infantil tem seu jeito especial para lhe dar com esses pequeninos..

Silvia Guarda disse...

Parabéns Ane, realmente o texto é lindo e tem muita emoção e ao ler eu consegui me ver dentro do texto amei e amo Educação Infantil.