quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Viagens e viagens

Fazia tempo que eu não escrevia, pelo menos para o blog. Fazia tempo que não encontrava um computador disponível em quanto as ideias surgem. Hoje, dei sorte, enquanto organizava a papelada para a próxima viagem.
No escritório, depois da meia noite, sempre tenho muito mais inspiração, para tudo: limpar, pensar, organizar. Em meio a papeis e bloquinhos que pretendo levar na bagagem de mão, acabei parando para ler umas anotações feitas em minha primeira viagem a Portugal, um bate e volta de quatro dias num feriado de Corpus Christi. Claro que não conseguimos conhecer quase nada de Lisboa, mas foi o suficiente para que quiséssemos voltar e o fazemos todos os anos desde então. E cada vez é uma experiência nova, ao mesmo tempo uma sensação de estar em casa e viajando, tudo embrulhado no mesmo pacote.
Temos facilidades fantásticas que o trabalho de meu marido nos concede para viajar. Por ser colaborador em uma empresa aérea portuguesa, conseguimos descontos no mínimo fabulosos. Nisso, conseguimos explorar um pouquinho do mundo: Portugal, França, Itália, Suíça, Marrocos, Chile, Argentina, Uruguai... muitos estados brasileiros e eu que já havia viajado quando guria, pelos dezoito anos, emergi nas ruelas de Israel, senti os sabores do Egito e me aventurei alguns dias pela Espanha. Cada experiência única, cada lugar inesquecível, indescritível.
Agora, vamos enfrentar a viagem mais longa, por mais tempo, por um mundo totalmente desconhecido, o enigmático Sudeste da Ásia. Serão mais de trinta dias pelos quatro encantadores países: a paradisíaca Tailândia, o contrastante Vietnã, o bravo Camboja e o quase desconhecido, mas nem por isso menos atraente, Laos. As expectativas são muitas, o frio na barriga é imenso. A mala está cheia de repelentes, inseticidas, medicamentos, mas principalmente de esperança.
Não há como se aventurar por países considerados por nós, ocidentais, como exóticos sem ter esperança de que nossas vidas mudarão. Há que se esperar, sempre, que um casal maluco, que viaja sozinho, com um inglês básico, sem conhecer nada além do que suas pesquisas no Google proporcionaram, voltem de uma viagem dessas diferente. Isso porque sempre mudamos, mesmo tendo dado um pulinho na próxima serra gaúcha, não há como ser igual depois de contemplar a enormidade do mundo, das diferenças, das outras vivências.
Há que se ter esperança em mudar, em voltar mais humano, mais tolerante, mais amável, mais tranquilo, mais vulnerável ao outro (por que não) e muito mais aberto à compreensão do mundo como parte de um plano divino para a vida em abundância de todos os seus filhos.
Depois de uma viagem, se o viajante regressa da mesma forma, com a mesma alma, ele não viajou, só saiu do lugar, não aprendeu o que o mundo tem a ensinar, apenas passou pelos lugares, não esteve neles, não cheirou, não saboreou, não enxergou o que os olhos viram.
A beleza de qualquer viagem está em nos despirmos de nós mesmos, deixarmos por algum tempo nossas velhas roupas, nossas velhas posturas, nossos velhos costumes e nos inebriarmos com o diferente, inusitado e surpreendente. Quando permitimos que outros olhares nos prescrutem e nos desnudem, seja em que lugar for, aí sim, viajamos.

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