
No escritório, depois da meia noite, sempre tenho muito mais
inspiração, para tudo: limpar, pensar, organizar. Em meio a papeis e bloquinhos
que pretendo levar na bagagem de mão, acabei parando para ler umas anotações
feitas em minha primeira viagem a Portugal, um bate e volta de quatro dias num
feriado de Corpus Christi. Claro que não conseguimos conhecer quase nada de
Lisboa, mas foi o suficiente para que quiséssemos voltar e o fazemos todos os
anos desde então. E cada vez é uma experiência nova, ao mesmo tempo uma
sensação de estar em casa e viajando, tudo embrulhado no mesmo pacote.
Temos facilidades fantásticas que o trabalho de meu marido
nos concede para viajar. Por ser colaborador em uma empresa aérea portuguesa,
conseguimos descontos no mínimo fabulosos. Nisso, conseguimos explorar um
pouquinho do mundo: Portugal, França, Itália, Suíça, Marrocos, Chile,
Argentina, Uruguai... muitos estados brasileiros e eu que já havia viajado
quando guria, pelos dezoito anos, emergi nas ruelas de Israel, senti os
sabores do Egito e me aventurei alguns dias pela Espanha. Cada experiência
única, cada lugar inesquecível, indescritível.
Agora, vamos enfrentar a viagem mais longa, por mais tempo,
por um mundo totalmente desconhecido, o enigmático Sudeste da Ásia. Serão mais
de trinta dias pelos quatro encantadores países: a paradisíaca Tailândia, o
contrastante Vietnã, o bravo Camboja e o quase desconhecido, mas nem por isso
menos atraente, Laos. As expectativas são muitas, o frio na barriga é imenso. A
mala está cheia de repelentes, inseticidas, medicamentos, mas principalmente de
esperança.
Não há como se aventurar por países considerados por nós,
ocidentais, como exóticos sem ter esperança de que nossas vidas mudarão. Há que
se esperar, sempre, que um casal maluco, que viaja sozinho, com um inglês
básico, sem conhecer nada além do que suas pesquisas no Google proporcionaram, voltem
de uma viagem dessas diferente. Isso porque sempre mudamos, mesmo tendo dado
um pulinho na próxima serra gaúcha, não há como ser igual depois de contemplar
a enormidade do mundo, das diferenças, das outras vivências.
Há que se ter esperança em mudar, em voltar mais humano,
mais tolerante, mais amável, mais tranquilo, mais vulnerável ao outro (por que
não) e muito mais aberto à compreensão do mundo como parte de um plano divino
para a vida em abundância de todos os seus filhos.
Depois de uma viagem, se o viajante regressa da mesma forma,
com a mesma alma, ele não viajou, só saiu do lugar, não aprendeu o que o mundo
tem a ensinar, apenas passou pelos lugares, não esteve neles, não cheirou, não
saboreou, não enxergou o que os olhos viram.
A beleza de qualquer viagem está em nos despirmos de nós
mesmos, deixarmos por algum tempo nossas velhas roupas, nossas velhas posturas,
nossos velhos costumes e nos inebriarmos com o diferente, inusitado e
surpreendente. Quando permitimos que outros olhares nos prescrutem e nos
desnudem, seja em que lugar for, aí sim, viajamos.
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